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Jogo de Luz e Sombra: O gótico e o fantástico na literatura do século XXI.

  • Foto do escritor: Reneu Zonatto
    Reneu Zonatto
  • 27 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de nov. de 2019














Com origens na antiguidade e nos primórdios da idade média, a cultura gótica projeta-se no tempo para encontrar, no século XVIII, o início da literatura fantástica e a formação do estilo literário gótico.

Alguns motivos destacam-se para que aspectos culturais dos povos de origens germânicas viessem a se manifestar tardiamente no cenário europeu, após o fim do domínio gótico. É bem verdade que os Godos - posteriormente divididos em Visigodos e Ostrogodos – representaram uma ameaça ao Império Romano e à sua cultura clássica, a despeito de, no intento expansionista, integrarem-se socialmente nas regiões onde se estabeleciam, mesmo quando o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma.

Ainda assim, a tradição gótica sempre foi vista sob a perspectiva sombria e pagã. Suas práticas eram vinculadas, na “Época das Trevas”, à barbárie e ao ocultismo. Por isso, seria natural que, do renascimento ao iluminismo, certa conotação pejorativa lhe fosse atribuída, permanecendo relegada à obscuridade que imperava no medievo.

Mas então, o que faz este estilo literário emergir das trevas em pleno “Século das Luzes”, quando – coincidentemente (ou não?) - tem início também o gênero fantástico na literatura?

Esta resposta pressupõe outro questionamento: O que havia na “Idade das Trevas” que a “Idade das Luzes” não pôde prover ao pensamento humano?

Por incrível que pareça, os caminhos conduzem ao fim da metafísica de base filosófica aristotélica, que, na antiguidade e na idade média, constituía fonte e fundamento dos princípios gerais do conhecimento. E, assim sobrepujado, o pensamento metafísico levou com ele o fundamento do viver humano, em que pese a fé depositada na ciência para solução dos dilemas existenciais da humanidade.

Não se pode desconsiderar que, a esta altura, o desenvolvimento tecnológico e os avanços do conhecimento científico, Nietzsche e a sua “morte de Deus”, impulsionaram o pensamento contemporâneo. Porém, a tradição dos povos antigos e medievais confortava a humanidade com uma fundamentação existencial, última, absoluta e transcendente. Algo que estava além da instabilidade das paixões e ambições humanas. Este alento foi varrido do pensamento filosófico contemporâneo sem que nada equivalente ou suficiente lhe fosse dado em troca. As promessas da ciência não se cumpriram de todo. Ao contrário, trouxeram mais dúvidas frente ao desconhecido. A filosofia preocupa-se mais com modelos fundantes do que com o fundamento em si. E a humanidade vive órfã e carente, experimentando o desespero da criatura do “Prometeu Moderno” – já fazendo uma alusão à obra de Mary Shelley, que, publicada no século XIX, traz a narrativa do cientista que abandonou a sua própria criação à crueldade do mundo e, assim o fazendo, deixou que seu descaso e a humanidade finalizassem o intento de forjar o monstro, a um só tempo, emocionalmente frágil e inconsequentemente cruel.

Mas é no cenário lúgubre do século XVIII que surge o gênero literário fantástico – com o “Manuscrito de Saragoça” (de Jan Potocki) e “O Diabo Apaixonado” (de Cazotte), acompanhado da literatura gótica, a partir da publicação de “O Castelo de Otranto”, de Horace Walpole. O fantástico, ousando prosseguir nas conclusões de Tzvetan Todorov e sua “Introdução à Literatura Fantástica”, faz brotar da narrativa a dúvida e a hesitação entre o que pode ser real e o imaginário ou, ainda, sobrenatural. O gótico vale-se da tradição que, se à época restituía parcela do pensamento metafísico, com sua referência aos antepassados, lares ancestrais e dilemas existenciais - morte e medo do desconhecido - , hoje procura encontrar no simbolismo, no manejo de figuras arquetípicas e elementos da psicanálise, um fundamento para o viver humano.

Admitindo a hesitação e o benefício da dúvida, a literatura fantástica oferece alívio à pressão provocada pelos condicionamentos sociais, proporcionando, por meio da narrativa, uma perspectiva existencial de horizonte contínuo e múltiplas possibilidades. O estilo literário gótico, por sua vez, atua pelo que poderia ser representado como um plano vertical, instigando a busca pelos pilares fundamentais da nossa existência: aquilo que Santo Agostinho pregava ser o “grande profundum” ou a “magna quaestio” – que consiste nada mais senão o grande enigma que o homem é para si mesmo.

O livro “Escritos Profanos”, com publicação prevista para os próximos dias, trabalha estes elementos. Trata-se de romance em que o pensamento filosófico ocidental e oriental e aspectos da psicologia são combinados com o simbolismo presente na mitologia e no ocultismo, para desvelar, juntamente com a personagem, o abismo da própria personalidade a partir da luta travada entre o amor e o medo.

 
 
 

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